sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Alimento


Seja gentil, me abra.

Não force, apenas seja firme.

É neste processo que começa a beleza:

elementos em total harmonia.


Aprecie cada detalhe.

Observe as cores, os contrastes.

Deleite-se com o aroma.

Surpreenda-se com a textura.


É na sua boca que eu me revelo.


Meu sabor marcante é envolvente,

e o brilho do visgo, escorregadio.


Entregue-se a esta explosão de sabores.

Deixe que sua língua explore meus espaços.


Aí, então, vou deslizar por sua garganta

saciar sua fome,

ficar na sua memória.


E mesmo assim, satisfeito, você vai querer mais.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Vargas, meu predileto

Todas deliciosas. Cheias de curvas. Pouca roupa. Caras e bocas.
Sedutoramente ingênuas. Maliciosamente dissimuladas.
Assim são as mulheres de Vargas.

Confesso que, por muito tempo, essas mulheres povoaram meu imaginário. Foram referências de poder, sedução, espelho mesmo. Eu queria ser uma delas. Todas divas. Simplesmente lindas.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Pano pra manga...

Tudo começou como uma brincadeira de criança: quero ser professora.

Fiz muitas explanações no meu quarto, cercada de um monte de bonecas atentas, até chegar ao magistério. Foram horas de estágio, três anos de aulas de filosofia e pedagogia e didática e gramática pra, enfim, me formar professora! Isso tudo, lá no finalzinho dos anos 80...

De lá pra cá, a sala de aula ficou na memória e na vontade.

Um belo dia, a vontade começou a se avolumar – crescendo até aqui, ó! E as palavras foram parar no papel. Montei a apostila do workshop que pretendo ministrar. Ou, na moderna acepção da palavra facilitar: do qual serei facilitadora. Até que foi fácil esquematizar a apostila, que virou um caderno de exercício...

O assunto escolhido é algo instigante: criatividade. E ao mesmo tempo, inesgotável.

A todo momento descubro novas coisas pra acrescentar, discutir, desmembrar, agregar... ufa!

Com certeza, posso afirmar: pra mim, mais difícil do que iniciar um processo do nada, é dá-lo como concluído.

* Esta última frase não é coincidência: veio do texto logo aí embaixo!!! Ele, sim, é pano pra manga...

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Pára tudo!


Estava lá, no meu iGoogle...


Procuro estar antenada com tudo o que acontece por aí, que mal tenho tempo pra acompanhar as novidades. O meu maior medo: ficar ultrapassada. Tem vezes que penso ser uma esponja, por absorver conhecimento de todas as fontes - mais pareço a Rádio Relógio com o seu pontuado "você sabia?"... informação útil para tudo o que é futilidade.

E a tal Síndrome da Urgência, identificada por Covey, que me consome? Raios!

Pra minha sorte, na minha rede também cai pílulas de pausa - esse texto foi quase um sossega-leão, pra dizer a verdade. Dizem ser do rabino Nilton Bonder, mas não consegui atestar sua autoria. Vale do mesmo jeito. Pelo menos, pra mim!

Domingos precisam de feriado

Toda sexta-feira à noite começa o shabat para a tradição judaica. Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino, no sétimo dia da Criação.

Muito além de uma proposta de trabalho, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo.

A noite é pausa,
o inverno é pausa,
mesmo a morte é pausa.

Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.

Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.

Hoje, o tempo de 'pausa' é preenchido por diversão e alienação. Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações 'para não nos ocuparmos'. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão.

O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições. Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia.

Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo...

Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme.

As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.

Mas, as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente.

As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado...

Nossos namorados querem 'ficar', trocando o 'ser' pelo 'estar'.

Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI - um dia seremos nossos?

Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante.

Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco.
Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos...

Parar não é interromper.
Muitas vezes continuar é que é uma interrupção.

O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair - literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida.

A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é 'o que vamos fazer hoje?' - já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de domingo.

Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande 'radical livre' que envelhece nossa alegria - o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.

Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar.

Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A paixão


Este é um momento confessionário. Aqui vou escrever palavras verdadeiras e não quero – digo: NÃO QUERO – que você as use contra mim.

A roda da fortuna nunca pára de girar. Mesmo que na menor velocidade possível, ela está sempre em constante movimento. Ainda bem. A linearidade traz uma certa mediocridade, não é mesmo? Altos e baixos, essa diametral oposição de sentimentos tem lá seu valor. Crescemos. Evoluímos. Ao menos não criamos limo!

(Não. Este não é um texto-ode à tão em voga bipolaridade! Ou pelo menos não era até eu chegar neste ponto... Já aconteceu de você sentar pra escrever aquele texto que estava prontinho na sua cabeça e, no momento exato de teclar as letrinhas, tudo mudar? As palavras são caprichosas. Pelo menos as minhas! Muitas vezes não há santo que me faça voltar ao que estava pensando! O texto digitado é outro, e não aquele que planejava escrever. Ai! Vai entender esses desígnios do inconsciente!!! Rachel, talvez eu precise da Terapia da Palavra com urgência!)

Voltando à tal roda. O que eu queria dizer é que, nos últimos meses, a minha girou beeemmm devagar. Cheguei a pensar que ela pararia a qualquer momento. Um belo dia, não sei precisar, acordei diferente. Ou fui dormir – sei lá.

Imitei Narciso, me apaixonei por minha imagem no espelho. Descobri novos contornos. Algumas rugas. Vi acender novamente o brilho no olhar. Mergulhei em mim. Posso usar muitas metáforas para contar este recomeço. O certo é que volto à tona, cheia de novas idéias. Só os quereres são os mesmos.

Já estava na hora de me reinventar, afinal!

* Foto: é só digitar Narciso no Google que aparece! *

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Sobre a singularidade na pluralidade


Um ensaio pseudo-filosófico.

Cheguei a uma conclusão. De tão diferentes e únicas, somos todas parecidas – quase iguais, pra ser bem sincera. Tudo bem. Você pode preferir azul, gostar mais de salgado, odiar pimenta e se deixar levar por um cheirinho mais adocicado. Prefere homem só um tantinho assim mais alto do que você? E um loirinho te chama mais a atenção? Ok. Nestas preferências somos bem diferentes.

Mas, quando falo da vida, quando escrevo o que – lá no fundo – me importa, encanta, assusta e estarrece, você concorda comigo. E ainda tem gente que diz ter lido seus próprios pensamentos.

Esta é minha teoria da singularidade na pluralidade. Somos tantas e tão iguais! Queremos as mesmas coisas. Temos os mesmos valores. Oscilamos em proporções. Na média matemática – onde os números não mentem jamais – somos estatisticamente parecidas. Muito mais parecidas do que gostaríamos.

Qual foi a mulher que nunca, num primeiro ou segundo encontro, ouviu aquele cara declarar que seu-olhar-é-uma-coisa-de-louco-que-o-tira-do-sério?

Um diálogo assim não está tão longe da vida como ela é:
- pára, vai... não faz assim.
- o quê? O que eu fiz? – diz ela, meio inocente.
- pára de me olhar assim. Declara ele, meio perturbado.
- assim como? Esse é o meu olhar normal...
- não brinca, vai... quando você me olha assim, chego a ficar tonto.

Neste momento, um pensamento devastador passa pela cabecinha de vento da nossa mocinha: se eu não estou fazendo nada e ele está assim, tonto, imagina quando eu usar o meu-olhar?!

Agora sim, ela tem a certeza de que seu olhar magnético é maior arma de sedução. E capricha nas voltas e reviravoltas dos semi-cerrados olhos lascivo - de glóbulos oculares à ogivas nucleares.

Ahhh... com você é um jeito de mexer nos cabelos, virando delicadamente o pescoço na direção dele? Seria aquela mordidinha no lábio? Uma passadinha de língua pelo canto da boca? Ou então o jeito particular de morder – distraidamente – o cantinho da unha, o canudinho, ou seja lá o que for!

Bem-vinda ao clube. Somos mesmo todas iguais.

Encantadas pela lábia masculina. Eles nos dão o poder, e envaidecidas, caímos na armadilha de sedução deles – nos entregamos e acreditamos [nem sempre] que desta vez vai ser diferente. Enfim encontramos O Cara.

Vaidade é nosso pecado.

E assim, muito parecidas, somos imensamente diferentes. Singular, na verdade. Até mesmo nas mais idênticas situações.

No meu mundo particular, minha desinência plural se encerra nas muitas mulheres que brinco ser. E neste caso, somente pra ele.

* Esse olhar eu vi aqui. *

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Lady Luck




Não sou uma pessoa cética. Acho que nem seguidora de São Tomé eu sou! Talvez seja influência do meu signo - peixes - ou ainda uma introjeção. Vai saber?!

É fato que adoro a companhia de Lady Luck. Vejo pequenos sinais em todos os cantos. Dê um desconto: não sou das chatas de antolhos. Sei que posso construir coincidências metafísicas capazes de ligar qualquer grupo de fatos, pessoas ou objetos. Mas, vamos combinar? É muito mais divertido - e leve! - ver o lado bom das coisas. Acreditar que é possível já é quase a metade da solução de qualquer problema.

Se a sua vida não é simples, problema seu! De complexo, já basta o menu do meu celular. Prefiro seguir assim e rir-me das cotidianices do que amarrar uma carranca [e, acredite, quando fecho a cara, a coisa fica feia!].

Lady Luck está de braços dados com o meu bom-humor.

E assim, o sol volta a brilhar.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Quando quinta é sexta

Vou visitar o velho rock' n ' roll. Há tempos não nos vemos. Trilha-sonora das antigas, das épocas de noites viradas, tequila com cerveja, Jack Daniels e coca cola, cachorro-quente no posto às 6 da manhã.

Revival - gente, como aprontei. Todos os dias eu tinha algo diferente pra fazer. Tudo bem, teve mês de parar TODOS-OS-DIAS no mesmo bat-local. Como era bom! Home, Sweet Home. Era assim que eu me sentia: em casa!

De lá pra cá, muita coisa mudou. Tomei outros rumos. Comecei a curtir um tinto, um espumante. Conheci o Jazz, o Blues, me encontrei nos clássicos, me perdi nos chill-outs. É verdade que nunca abandonei o Rock.

Mas, a saudade aperta. Dizem que é nostalgia. De uma coisa tenho muito orgulho: os amigos, eu os trago desde as mais remotas eras. São os mesmo daquele tempo!

Hoje eu vou fechar a pista.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

As minhas exigências

Não que eu esteja sem-palavras. Ao contrário. Uma profusão de idéias borbulham incessantemente na cabeça. Mas é só eu abrir a boca pra todas fugirem rápidas, sem nem deixar rastro. Eu bem que tentei gravar essa fuga insana. Mas, perdi todo o sentido - o que se ouve é um farfalhar de palavras desconexas.

Confesso que sou a primeira: em tudo "me sou" super-mega-extra-blaster exigido.

Viver plenamente, por Clarice Lispector
"Eu disse a uma amiga:
- A vida sempre superexigiu de mim.
Ela disse:
- Mas lembre-se de que você também superexige da vida.
Sim."