sábado, 24 de abril de 2010

Senhora censura

Para tudo o que pensava ou dizia, ouvia: isso não pode.

Rascunhava alguns traços, umas letras. Combinava coisas, bolava caminhos diferentes. Criava teorias desconcertantes. E lá estava ela, imperiosa, a balançar a cabeça impedindo o avanço. Aquela senhora, dona de toda a verdade, continuava em sua cola, a lhe cobrar compostura e razão.

Eram velhas conhecidas. Traçaram o mesmo caminho, anos antes. E, desde então, não se separaram mais. Mantinham um certo afastamento, como se uma não quisesse saber da outra. O fato era que, a menor ação de uma, a vida da outra era afetada.

Aos poucos foi se entregando, achando que, assim, a tal dona não se manifestaria. Tolo e infantil engano. Aí é que a senhora se encheu de si e, com dedo em riste, enumerou todas as qualidades que a pequena possuía, mas descartava sem alento. Qualidades estas que um dia foram lhe apontadas como problemas.

A pobre já não sabia o que fazer. Se falava, era criticada. Calada, quase humilhada. Na sua inquietude criativa, nunca percebeu que ela mesma alimentara tal relação. Porque na verdade, a bruxa, a crítica, a vil, era seu próprio reflexo no espelho.

Xô, auto-censura! =P

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ela foi categórica: dedo podre

Esta é uma história real. E sim, aconteceu comigo.
Depois do papo surreal, onde fiquei com cara de otária, ruminei várias respostas. Mas, o meu defeito é perder o prumo na hora H, ficar muda, com cara de aé... Depois, o tempo passado não merece resposta. Deixei para lá. Até resolver escrever. Porque minha gaiatice transforma quase tudo em piada para a posteridade. O que faço melhor? Rir de mim mesma. E de você, pode ter certeza. =P


Acho que já estava de férias (forçadas, mas bem curtidas!) e minha vida de dondoca me permitia frequentar o shopping em horários até então inéditos para mim. Agora não lembro o dia, nem do mês, muito menos da semana. Mas era à tardinha, com certeza. Parei na Starbucks para um café e papo-furado.
Só nós duas à mesa, o assunto me tomou de assalto:
- Já somos íntimas, não? Então eu posso falar pra você. Sempre pensei isso - eu acho que você tem o dedo podre.
Foi a minha cara (de aé) que a fez se explicar melhor: - é, dedo podre para homens... você sempre escolhe uns tipinhos. Não combinam, não têm nada a ver. Acho que é medo do sucesso.
Definitivamente a minha reação (ou a falta de) a animou. Sei lá o que eu disse. Hoje traduzo minhas poucas palavras como blá-blá-blá-whiskas-sachet. Bolo na garganta, soco no estômago. Pensamento interno disparado e me crucificando: - como assim, você não responde??? Sim, eu não respondi. Acho que na hora eu até concordei! Devo ter falado algo como: - é, eu tenho o dedo podre o.O

Passado o susto, me pergunto: como uma pessoa que mal me conhece pode falar da minha vida? Como uma fedelha de 20-e-poucos-anos pode categoricamente atestar que eu, macaca-velha de quase-quarenta, fiz escolhas erradas?

É certo, testado e comprovado, que tenho uma película antiaderente que impede certos tipos (canalhas lindos, inclusive) de grudarem em mim. Posso até ter uma certa preferência, mas logo eles perdem o encanto e não são mais atraentes.
Mas, será que a bunitinha acha que, para uma mulher ser feliz, é preciso um homem na história? Aliás, um marido? Ou que a busca de todas nós, mulheres, é o casamento? E que a falta deles - casamento, festa, aliança, marido - é sinal de fracasso??? Ou ainda, aos quase-quarenta, não ter tudo isso, é sinal de escolhas erradas?
Sinto dó de pessoas assim. Tão pobres em suas possibilidades... tão limitadas, prisioneiras de modelos e pensamentos, sem nem questionar se estes são válidos, enfim.

E, para completar, a tal segue minha trilha, namorando meus ex. Dois deles. Pode?