quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Quando o Tempo me toma...

Ando pensando sobre o Tempo. Indagações filosóficas, até. Outras, de tão práticas, chegam a ser chatas. Um misto de nostalgia, saudade, preocupação, leveza, fantasia... são tantos os sentimentos misturados, que ainda não cheguei a uma conclusão sequer.

Aos 36 anos, o que fiz da minha vida?

Olho no espelho e vejo alguém tão jovem, tão imatura! Alguém que ainda tem uma vida inteira pela frente. Que precisa aprender a ser paciente. Mais incisiva. Determinada, porém leve.

Olho pra dentro e enxergo alguém tão impulsiva a ponto de ser a mais infantil criatura da face da terra! Cresça! É o imperativo que mais me ouço dizer.

Olho pra trás e... Penso que poderia ter feito mais. Construído coisas de fato. Plantei árvores, é verdade. Só imaginei o livro que quero escrever. Multipliquei-me e de mim veio João.

Olho pra frente e ainda não consigo pré-ver o caminho. (O que é perfeitamente natural, o que quero dizer é que não tenho um plano. Nem de Previdência Privada, que faça os dias porvir um pouco mais coloridos.)

Nessas horas, implico com minha impulsividade.

Mas, não é ela mesma a minha maior marca de espontaneidade?

Queria escrever sobre algo que li na Revista de domingo, d'O Globo. Acho que Martha Medeiros escreveu sobre a "pior vontade de viver". Pra pegar a fonte correta, joguei no Google e (re)descobri Clarice. Tomo as palavras dela. Agora são minhas também.

Clarice Lispector por ela mesma:
o temperamento impulsivo.

Organizado por Pedro Karp Vasquez.

“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”