quarta-feira, 14 de maio de 2008

Ela


Ela já não sabia o que queria. Estava perdida em um mundo de possibilidades. Tudo o que esperava era o que chamava de vida normal. Mas isso também já não era possível.

Ela viveu no limite. Apaixonou-se pelo gosto doce, levemente ácido, de quebrar regras. Aquele era um caminho sem volta. Não foi ela mesma quem formulou a louca teoria de que as mulheres têm seus limites plásticos – e não elásticos?! Pois então... uma vez distendido, não retornaria ao ponto de partida.

Ela precisava se reinventar. Era o que faltava. Estava próxima demais daquele turn-point, o momento alavanca, pronta para saltar para a nova realidade que a aguardava, inquieta, do outro lado. Mas, por que a inércia?

Ela sabia o que deixaria para trás. Só não sabia que já estava pronta para abrir mão do passado. É hora de começar de novo. Recriar.

Ela suspeitava de que não haveria rede de proteção lá embaixo. Há tempos esse suporte tinha desfeito seus nós. Lá no fundo também sabia que não precisaria dele. A mão do outro lado era certa. Pois era ela mesma quem a esperava.

* foto de Paulo Salerno.