segunda-feira, 28 de abril de 2008

Estranheza

Tô me sentindo estranha.

Mas gosto do que agora sinto.

Estou alerta.

Estou aberta.

E estou sangrando.

Do sangue faço tinta - e escrevo...

Neste momento não sei exatamente onde quero chegar.

Quero gritar.

Quero tirar da garganta esse nó apertado que me sufoca.

E ele tem nome e sobrenome.

Mas não vale dizer em voz alta.

Deixei que acontecesse.

Não me importei quando bateu a minha porta.

Abri. Acolhi no meu seio.

E os anseios eram grandes.

Enormes. Mal agüento seu peso.

Meu ombro se curva. E vou ao chão.

Disse uma vez que jamais seria dobrada de novo.

E aqui estou: no chão.

Estou de joelhos, a implorar migalhas que nem quero.

Estou chata. Estou suja.

Cansei de mudar pra alguém me querer.

Cansei de tentar ser diferente pra ser melhor.

Doença!

Como se não bastasse ser eu.

Doença!

Revistas ditam listas.

Ignorante, sigo todas, mesmo sem querer.

Quando vejo, lá estou, que nem patricinha sem-vergonha,

pasteurizada, vendida por uma ninharia qualquer.

Mimética. Que merda!

Não perdi este meu maior defeito.

Querer me misturar à multidão que tanto condeno.

Imperfeita. Minha maior qualidade nesta hora me irrita.

Mas, nesta estranheza, me acho.

Volto no tempo e vejo que, perdida, de novo sou eu.

Maluca. Muitas vezes fui chamada de louca,

como se fosse maldição.

Pra mim é elogio.

Ser louca, insana, é a meta.

Quem dera!

Não quero a mesmice bege que assola o mundo.

Quero as cores dos gênios malditos.

Quero tintas a cobrir a tela branca

Quero o caos criativo

Onde nado tranqüila.

Quem disse que preciso ser?

Quem disse que igual é melhor?

Ser diferente, estranha, é poder.

Posso ser quem eu quiser.

E posso mudar de idéia.