Nunca me senti confortável com a teoria dos “papéis” representados vida a fora. Porque, pra mim, representar um papel é arte da fraude consentida. É o engano pensado e construído. Daí eu não gostar quando falam dos diversos papéis que representamos: filha, esposa, empregada, patroa, mãe, irmã, amiga, amante, e muitos outros... Não que eu seja contra a dramaturgia. Até me saio muito bem nas caras e bocas.
Vocês que me desculpem, mas troquei o nome: ao invés de papéis, falo de mundos paralelos. Gosto mais desta idéia. Deixe-me explicá-la.
Quando estou na agência (eu trabalho com marketing direto), meu mundo tem uma vibração interessante e diferente de qualquer outro. Temos um jeito diferente de falar, quase um dialeto. O pensamento tem ritmo próprio, hiperlinkado mesmo – pelo menos o meu. As horas voam e o tempo passado é o mais usado: tudo é pra ontem.
Já quando estou com o João, meu príncipe-herdeiro, ou com minha deliciosa família Adams, quase não precisamos de palavras – o olhar fala mais alto. Não que a gente fique mudo... mas não é preciso. Se falamos, usamos mais as sensações. Há mais calor neste mundo. Mais aconchego. Mais tolerância aos erros. Aqui o tempo é mágico: as horas correm em determinados dias. Em outros, ela se arrasta vagarosamente, amorosamente, deliciosamente.
Entre as amigas da Terça-Santa, meu mundo é outro. É agitado, de um jeito muito peculiar. Tem Genésio, o garçom-parede que nada ouve, ou se escuta, faz cara de não-tô-nem-aí. Este meu mundo é frenético, ávido por diversão, riso e gaiatice.
Estes mundos paralelos coabitam o mesmo universo, onde a linha do tempo está entrelaçada. E em comum, todos têm a mim. Eu sou o umbigo do mundo. Dos meus mundos.
[no fundo, dá no mesmo: papéis ou mundos paralelos, quem se importa? Eu tenho um segredo pra revelar: meus mundos paralelos vão se multiplicar em breve. Ou, se você assim prefere, uma nova peça entrará em cartaz].
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