quarta-feira, 20 de junho de 2007

Em algum lugar...


Sensação. Meu sexto-sentido me diz que algo está para acontecer. Eu sinto. É bem aqui, ó. Embora você não possa ver, aponto para o meu plexo solar, central de toda a minha identidade, dizem até que uma fábrica de auto-estima. [Vai saber!].

Mulher tem dessas coisas, não é mesmo? Tal a sensibilidade, que captamos no ar o que ainda não aconteceu. Anteninha antenada!

E assim, com tamanha certeza, eu sei. E falta muito pouco. Vai acontecer.

...

Ele estava lá, na minha frente. Não notei logo de cara. Eu lia qualquer coisa e nem me lembro bem. Ele ouvia uma música nas alturas. Até que, uma hora, o som que vazava dos fones chegou ao meu mundinho particular, roubou minha atenção. Eu ri, sem levantar os olhos das páginas, imaginando um adolescente com seu iPod.

Mas, fisgada pela curiosidade de reconhecer o som - sou boa nisso, apesar de nunca saber o nome da música ou do cantor - procuro aguçar os ouvidos, emprestando os olhos para observar melhor.

Seu cabelo encaracolado, de um marrom escuro, estava grande, num corte moderno meio desleixado. Um pullover marinho esquentava a nuca e a garganta, com as mangas a dar voltas pelo pescoço - um abraço com cheirinho de amaciante, imaginei. Além da música, a leitura disputava sua atenção.

Lá estava ele. Alguém muito próximo e distante de mim. Separados por um banco de ônibus. Por uma vida inteira. Por um olá, talvez.

A pele branca e o perfume oriental me guiaram em uma viagem imaginária de amor romântico. Ali, naquele ônibus, eu conhecia - enfim - o alguém que eu tanto esperei. Seu sorriso doce me falou do passado. Ele se revelou em muitos detalhes. Desenhou o futuro ideal. E rimos do presente inusitado que vivíamos. Quem poderia imaginar, dizia ele, num ônibus! Trocamos segredos sem palavras. Perdoamos os erros que cometeríamos. Combinamos surpresas para as datas especiais. Encaixamos.

A luz da Lagoa, naquela manhã, estava mágica. Preferi descer do ônibus sem me despedir. Nosso amor merecia continuação...


* fotos minhas, dia desses, no 157 rumo à Lagoa *
p.s.: Se você por acaso se reconhecer na foto, me desculpa. Não resisti e inventei a nossa história.