sexta-feira, 27 de abril de 2007

Procura-se platéia


Ontem comentei que escrevo o que eu quero, mas não escrevo só pra mim. Não! Eu quero ser lida. Preciso de leitores como qualquer ator precisa de platéia. A diferença é que no meu palco, não preciso de aplausos. Pra mim, saber que sou lida basta.


Gozo literário
Sou uma escritora puta
Que se vende barato
A todos que parecem me querer
Me exibo nas prateleiras
A esperar que alguém se seduza
Que me abram as capas
Me toquem por dentro
Me virem as páginas
E assim, lida, devorada
Me sinta, enfim, saciada.

* foi bom pra você? *
* Procure estante, e São Google te guiará! *

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Meu velho tênis



Hoje acordei meio Forest Gump. Não no sentido de contar histórias, o que já faço todos os dias. Mas com aquela vontade louca de andar, de usar meu velho tênis-de-corrida-que-não-combina-com-nada-do-meu-armário.

Logo imaginei várias andanças. Ainda de olhos fechados, percorri caminhos, passei por muitas árvores, subi encostas, desci pirambeiras. Até senti um ar fresco nos cabelos e o geladinho da areia sob os pés, na beira da praia. Respirei fundo. Nesta hora, me enchi com toda a vida do mundo. Senti passar pelos meus pulmões, as histórias que nunca vou escrever.

Ficou na boca um gostinho-de-quero-mais.

Levantei atrasada. Tenho certeza de que não descansei com o sono, mas que ganhei energia com este daydream.

As janelas da minha vida


Você lembra que sou fissurada em janelas, não é mesmo? Pois então...

Das janelas da vida, vislumbro idéias . Pontos espalhados por aí, como naquela brincadeira, entro no jogo e ligo um a um, imaginando o que vai dar - ainda não sei ao certo - não me preocupo. Estou me divertindo.

Uma janela se abre. E outra. Mais uma...

Essas deliciosas janelas foram clicadas por um amigo virtual lá de Minas, o Alessandro Bastos. Gostei tanto que pedi pra colocar na parede. Antes de ganhar moldura, ela ganha este espaço aqui.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Meus 36 anos

Antes, eu queria escrever algo impressionante. Linhas de tirar o fôlego, palavras justas. Daquelas que não há como trocar por outras: perdem o significado e a beleza. Escrever O Texto, sem tirar, nem pôr. Intocável, até por um acerto de vírgulas.

Pensava, talvez assim, passar a vida a limpo, reescrevendo minha história. Não porque vivi o que não quis. Mas por não ter feito tudo o que pude.

Aos 36 anos vivo numa encruzilhada. O corpo sente como nunca. A cabeça pensa que é jovem. A sociedade cobra como sempre. E eu, no meio de tudo isto, estancada pela quantidade das velas no bolo, me pergunto onde está o espelho da madrasta, na ânsia por saber se há alguém mais boba do que eu.

Há tempos estou em busca do perfeito. Sempre procurando, ou fugindo do efeito da inércia diante da paúra de enfrentar ajustes e críticas. Sem querer encarar a humanidade do imperfeito – a minha humanidade imperfeita.

Agora, me dou conta. Que imperfeita vida levei, até chegar aqui! Muitas vezes, aos trancos e barrancos, à beira do precipício mesmo. Outras tantas, dentro da linha limítrofe da sanidade. Mas nunca pasteurizada. Jamais bege. Esta é a minha glória.

Isto porque busquei identidade. Camaleônica, voraz, inconseqüente. Fui ao encontro de mim, separando joio de trigo. Por anos me perdi em caminhos labirínticos, sinuosos, intrincados. É que por dentro, estava fragmentada.

Busquei juízo. Encontrei riso. E ao me duplicar, fiz nascer das entranhas homem-menino, carne de mim, que vai andar por aí em suas pernas, pensar sozinho, crescer pro mundo.
Nele sou perfeita.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

A vida que segue

Hoje acordei nostálgica. Aliás, fui dormir assim.

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Fui buscar referências do que um dia fui... achei este e muitos outros escritos. Deu vontade de colar aqui:

A vida que segue

Um dia, falava a algum conhecido sobre as delícias dos cafés que agora ocupam as calçadas do Leblon, invadindo assim a minha vida. Morro sem eles.

Fim de tarde, pessoas queridas ou a companhia de um livro. É sempre um passatempo agradável: boa comida, grandes amigos, um naco de cultura.

Mas, o que gosto mesmo é ouvir a vida que passa.

Adoro sentar sozinha em um desses cafés e observar os tipos que vagam e divagam pelas ruas, apressados pra algum compromisso, preguiçosos a caminhar sem destino. E ouvir fragmentos da vida alheia. Como isso é bom! Pesco uma frase, uma confissão, rasgos de uma discussão... e depois construo histórias inteiras acerca desses pequenos parágrafos roubados.

Então, mania explicada, volto àquele dia da conversa sobre as delícias.

Apesar da pressa, não deixei passar a cena: um casal, na faixa dos 65 anos, almoço após bateria de exames e encontros com médicos. Câncer foi o diagnóstico. E pelo tom, poucos meses de vida. Nada de lágrimas. A atitude era de luta e coragem. Entre garfadas, as mãos se encontravam por cima da mesa. De frente um para o outro, os olhares transmitiam força. Depois do café, e quase na hora da minha volta à agência, percebi o marido fugir com o olhar, e dizer com a voz embargada: é, querida, se me fosse dado apenas um desejo nesta vida, seria trocar de lugar com você. Já na saída, escondendo as minhas lágrimas que insistiam em cair, ouvi a resposta: Sou egoísta, meu bem. Sem você não saberia viver.

Caminhei de volta para o trabalho, acreditando ainda mais na vida e no amor. Ganhei uma lição. Desta vez, não quis escrever a história completa. Nada do que poderia inventar seria digno daquele casal.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Dói, mas é bom...


[Começo a achar que tenho fixação por janelas]

A vida passa rápido, não? Lembro que rezava pra crescer... Queria ser adulta. Queria mandar no meu próprio nariz. Minha mãe respondia aos meus desejos com um "mocinha, quando a senhora for dona do seu próprio nariz..." E lá ia eu pro meu quarto rezar pra que o tempo passasse rápido e eu tomasse logo posse desse meu nariz. Arrebitado, seja dito! De tanto ouvir, empinei o tal que agora muitos me acham besta. Bicho! [denunciei a idade agora!] Eu queria e não podia. Tinha vontades e ficava a ver navios... sempre colocavam minhas conquistas pro dia em que eu viesse a ser dona de minha vida.

Aprendi que não era suficiente.
Aprendi, de tanto ouvir, que deixasse por conta de outros as decisões mais importantes. Não é de se estranhar...

E, depois de tanta mordomia, resgatar a responsabilidade, assumir que há tempos já sou a adulta que rezei ser - haja análise!!!
Porque dói, viu? É verdade! Dói bater no peito e dizer: é! eu fiz isso sim... é... se estou assim-ou-assado, é por culpa e mérito meu! Dói ficar exposta, vulnerável. Mas, devo ter um quê sado-masô. Ô dorzinha boa, viu? Taí: essa é a beleza de ser adulta. É se entregar de corpo e alma à vida. É cair, ralar os joelhoes, mas se levantar, pronta pra seguir. É achar, vez ou outra, que a felicidade está na ignorância - mas dar de ombros e ser feliz mesmo tendo um montão de informação pra administrar. É saber que, não importa o que aconteça: eu faço o meu caminho.

E então, dona do meu próprio nariz, agora rezo pro tempo dar um refresco, andar pianinho, pra eu aproveitar essa vida-boa que conquistei.

:: é, eu brinco de ser fotógrafa ::
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