quarta-feira, 11 de abril de 2007

A vida que segue

Hoje acordei nostálgica. Aliás, fui dormir assim.

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Fui buscar referências do que um dia fui... achei este e muitos outros escritos. Deu vontade de colar aqui:

A vida que segue

Um dia, falava a algum conhecido sobre as delícias dos cafés que agora ocupam as calçadas do Leblon, invadindo assim a minha vida. Morro sem eles.

Fim de tarde, pessoas queridas ou a companhia de um livro. É sempre um passatempo agradável: boa comida, grandes amigos, um naco de cultura.

Mas, o que gosto mesmo é ouvir a vida que passa.

Adoro sentar sozinha em um desses cafés e observar os tipos que vagam e divagam pelas ruas, apressados pra algum compromisso, preguiçosos a caminhar sem destino. E ouvir fragmentos da vida alheia. Como isso é bom! Pesco uma frase, uma confissão, rasgos de uma discussão... e depois construo histórias inteiras acerca desses pequenos parágrafos roubados.

Então, mania explicada, volto àquele dia da conversa sobre as delícias.

Apesar da pressa, não deixei passar a cena: um casal, na faixa dos 65 anos, almoço após bateria de exames e encontros com médicos. Câncer foi o diagnóstico. E pelo tom, poucos meses de vida. Nada de lágrimas. A atitude era de luta e coragem. Entre garfadas, as mãos se encontravam por cima da mesa. De frente um para o outro, os olhares transmitiam força. Depois do café, e quase na hora da minha volta à agência, percebi o marido fugir com o olhar, e dizer com a voz embargada: é, querida, se me fosse dado apenas um desejo nesta vida, seria trocar de lugar com você. Já na saída, escondendo as minhas lágrimas que insistiam em cair, ouvi a resposta: Sou egoísta, meu bem. Sem você não saberia viver.

Caminhei de volta para o trabalho, acreditando ainda mais na vida e no amor. Ganhei uma lição. Desta vez, não quis escrever a história completa. Nada do que poderia inventar seria digno daquele casal.